Fábio Coimbra |
“Enquanto forem permitidas campanhas
eleitorais milionárias haverá corrupção no governo, pois alguém precisará pagar
a conta da campanha, certo? Ninguém doa tanto dinheiro para uma campanha
eleitoral à toa. Não existe tanto idealismo assim, neste mundo, ou a humanidade
não padeceria de tantos males”. (AUGUSTO BRANCO)
Como já dizia Sócrates, “uma vida que não é refletida não vale apena ser
vivida”. Sócrates estava certo ao dizer isso, e estaria ainda mais em nossos
dias se os homens de nossa época levassem em conta a pertinência da
racionalidade e a prudência no ato de agir e pensar.
“A democracia
surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido,
acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si”. (ARISTÓTELES)
Nesses tempos de campanha, fico pensando e observando o quanto a falta
de conhecimento crítico e sistemático a propósito dos princípios ainda persiste
como obstáculo para a construção de uma sociedade democratizada. Como bem
refere o intelectual brasileiro Milton Santos, “Nós simplesmente ainda não
sabemos do que falamos quando falamos em democracia”. Ainda é um discurso vago
e banal que a cada dia mais é banalizado pelos ratos e cupins que, passo a
passo, destroem os ideais e anseios de um povo. Democracia nos dias atuais
ainda é uma ideia que serve mais para beneficiar os ladrões – sob o discurso
que vivemos num estado democrático de direito – do que para promover melhoras
na vida de cada membro da sociedade a partir das liberdades fundamentais que só
essa forma de governo pode propiciar a um povo
A gente esvaziou a
palavra democracia de conteúdo. Continua-se falando em uma democracia sem saber
muito bem do que se está falando. Nós utilizamos uma série de conceitos que vêm
de um outro tempo – e que [se] tornam vazios porque o tempo mudou! – da maneira
que é convincente. Usa-se o conceito de democracia com referência ao meramente
eleitoral. O resto – a representatividade, a responsabilidade, tudo isso –
perdeu força. (MILTON SANTOS)
A propósito do direito, cumpre ressaltar que ele é um dos braços fortes
que sustenta a corrupção no Brasil. Ninguém pode duvidar da imensa contribuição
do direito – por meio do trabalho dos advogados – para a continuidade das
mazelas sociais que todos os dias vitimam um numero enorme de pessoas
despossuídas, sobretudo, do ponto de vista econômico. Os advogados, todos de
olho grande na bufunfa – são eles que defendem os saqueadores e ladrões dos
cofres públicos que, protegidos e tendo certeza da proteção, se sentem bem a
vontade para enriquecer roubando o que é dos pobres. O direito é, sem sombra de
dúvida, um dos piores inimigos da democracia. Os tribunais são verdadeiros
cérebros da corrupção, de modo que hoje não se sabe onde é que tem mais
corrupto: se é na política, ou se é no direito; sé é no congresso nacionail,
sedes de governos estaduais e prefeituras, ou se é nos diversos tipos de
tribunais.
Duas pontas: o Corruptor, aquele particular que tem
interesses mesquinhos e ilegais a defender, e o Corrompido, o magistrado, o
chamado "bandido de toga", nas palavras da destemida ministra Eliana
Calmon. E fazendo a ligação entre eles o que eu chamo aqui de "advocacia
de esgoto", o advogado que faz o "leva-e-traz" entre as duas
pontas podres do sistema. Tudo uma grande e malcheirosa imundície, como se vê. [1]
“Como disse alguém uma vez: o mundo seria melhor se os homens de bem
tivesse a ousadia dos canalhas”.
Referências
ARISTÓTELES.
A Política. Trad. Roberto L.
Ferreira. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
_______.
Ética a Nicômaco. Tradução de Edson
Bini. Baurú, DP: Edipro, 2013.
Acesso
em: 21 de agosto de 2014
SANTOS,
Milton. Por uma
outra globalização: do
pensamento único à consciência universal. 18 ed. Rio de Janeiro: Record, 2009.