A visão ofuscada de Turilândia: uma crítica do descaso e uma proposta para a melhora

 Fábio Coimbra é licenciado em Filosofia; 
Atualmente está cursando Mestrado em Sociedade e Cultura pela Universidade Federal do Maranhão. 
Seu projeto de pesquisa investiga as contribuições do economista indiano Amrtya Sen para a temática do Desenvolvimento e da sustentabilidade sob o enfoque da ética e da liberdade. 


          As análises históricas a propósito do desenvolvimento mostram o quanto os cuidados aos serviços básicos de saúde e educação se tornaram um empreendimento importante para alavancar o desenvolvimento social e determinados povos. O Japão não seria hoje o que é se não tivesse investido maciçamente em educação e saúde após a segunda guerra mundial. A China quando adotou a orientação para o mercado em 1947, já tinha superado consideravelmente os problemas no que tange a essas duas áreas acima citadas. Quando uma série de oportunidades sociais surgiram para os indianos nas décadas de 80 e 90 como resultado de uma série de reformas políticas ocorridas, a grande negligencia aos serviços de educação e saúde (anterior a esse contexto) fez com que os habitantes da Índia não aproveitassem aquelas oportunidade que se abriam. A enorme negligência aos serviços de saúde e educação básica é a grande explicação para os avanços da China em relação a Índia, por exemplo. 

         No Brasil, a extrema corrupção na política e a massiva negligência aos serviços de educação básica e saúde constituem as principais causas do atraso do país. Consequentemente, os programas sociais como Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Bolsa Família, etc., são, em ultima instância, medidas desesperadas que o governo instituiu – preocupado com a quantidade e não com a qualidade – objetivando a redução da pobreza da miséria e da desigualdade. Obviamente (e que isso fique claro) não estamos discutindo aqui se, de fato, os programas sociais são relevantes ou não para a redução da miséria e da pobreza. Isso é assunto para outro artigo que em breve devo fazer. O que estamos querendo dizer é que a nossa sociedade poderia ser melhor e mais bem desenvolvida se não fosse a negligência para com a educação e a saúde. Alias, todo esse quadro terrível de corrupção que vemos tem como aliado forte a instituição do Direito, que – por meio dos masturbadores da justiça, os chamados advogados, os defensores da corrupção – protege essa rede de roedores que corroem a saúde e a educação do país. O Brasil, certamente seria mais reto se o Direito não fosse tão torto. 

          Nos Estado (o Maranhão, por exemplo) a negligência para com os serviços básicos prestados à sociedade é muito perceptível. Basta ver que para a obtenção de alguns benefícios, ou conquistas, os professores muitas vezes são obrigados a fazer greve. O que – de per si – já mostra o tamanho do descaso. 

         Nos municípios (Turilândia, por exemplo), essa realidade não é tão diferente. Pois embora as imagens nos dê determinadas impressões, suscitando em nós determinadas idéias, na prática – quando nos voltamos para o tecido concreto da sociedade – não encontramos uma correspondência eficiente entre as idéias que as imagens nos imprimem e a realidade social as quais referenciam. Ou seja, não se vê na matéria de Turilândia nada que corresponda as idéias do espírito tal como elas são formuladas a partir de uma construção imagética. A imagem que é também um instrumento de dominação política, obviamente tem um contributo muito grande para a manutenção no poder. Nesse sentido, é sempre bom tomarmos o Maximo de cuidado ao ver determinadas coisas, ou fazer determinadas análises simplesmente a partir daquilo que é dado à nossa simples visão pelo aparelho midiático. Pois, corremos o risco de nunca sairmos do inferno escuro, que é a caverna carente de luz, similar à parcial ausência de luz nas ruas noturnas de Turilândia, fruto da ausência de compromissos. 

           Quando voltamos nosso olhar para a educação sob o olhar da analítica ou da hermenêutica, percebemos o quanto Turilândia está longe de um padrão de qualidade. Tenho a impressão de que faltam docentes mais qualificados (com toda reverência aos que já tem a devida qualificação); falta a idealização e realização de mais projetos; falta, por exemplo, a construção de uma quadra para a realização das atividades físicas dos alunos para que eles deixem de fazê-las na rua; e, sobretudo, me parece que falta um secretário (a) de educação mais presente e empenhado na busca de solução para os problemas que a educação municipal enfrenta. Assim, portanto, nos damos conta de o quanto falta ser feito, bem como da extensão do descaso para com a educação por parte do município. E isso é decepcionante, pois, traz a perspectiva de continuidade da mesmice. 

          Há muito pouco em Turilândia da idéia de ruptura com o passado recente e de construção a partir da noção de descontinuidade na configuração da atual sociedade turilândense. Sobre a areia movediça é impossível a construção de um grande e belo edifício. É necessário o lançamento firme da base antes da construção. Enfim, o olhar da cidade como um todo é parcialmente embaçada, ofuscada, pelas pegadas do descaso em determinados setores. 

           Ao final, cumpre ressaltar que nossas críticas não são céticas, isto é, não criticamos por criticar. O que queremos é contribuir para que melhores ocorram; melhoras na materialidade da sociedade e não na sua demonstração imagética que quase nunca diz a realidade dos fatos sociais. Não é com mídia que se constrói uma sociedade melhor e sim com a devida eficiência na promoção dos serviços básicos de educação e saúde. 
          Gestores entendam que uma cidade é uma estrutura complexa que se governa no conjunto da demandas sociais, e não apenas pintando paredes de prédios.