Em
2012, este fenômeno deve se repetir com força total. Inspiradas pelo sucesso do
deputado federal mais votado do país em 2010, Francisco Everardo Oliveira Silva
(PR-SP), mais conhecido como o palhaço Tiririca, várias celebridades, veteranas
e novatas em eleições, já confirmaram que serão candidatas neste ano.
O filho de Tiririca, Everson de Brito Silva, mais conhecido com
o palhaço Tirulipa, é um deles. Filiado ao PSB desde 2011, tentará agora em
2012 uma cadeira na Câmara Municipal de Fortaleza. “Cada um tem sua opinião.
Meu pai foi alvo de críticas durante toda sua campanha, e hoje ele mostra
seriedade. Não faltou em nenhuma sessão da comissão dele”, diz. “Vou realizar
trabalhos na área de cultura. Tenho um circo itinerante, já fazemos um trabalho
social nos bairros que visitamos”, afirma o palhaço.
Vera Chaia, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo) e pesquisadora do CNPQ (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), enxerga o fenômeno com
ressalvas. “É um jeito de obter votos, um chamariz para o partido, já que estes
candidatos geralmente não tem nada a dizer, não tem proposta politica”, diz.
“Existem, no entanto, exceções. O Tiririca, por exemplo, surpreendeu. Esta na
comissão de educação, nunca perdeu uma sessão. O Romário é outro, tem sido bem
crítico com os desmandos da Fifa em relação à Copa do Mundo no Brasil; e o Jean
Willis [ex-BBB], que sempre teve um envolvimento político e continua com esta
militância”, afirma a professora.
“O problema não é o candidato celebridade em si, mas a
legislação, que permite que eles puxem outros candidatos que não obtiveram
votos suficientes, o que gera uma certa distorção”, diz Vera.
Para o professor Octaciano Nogueira, da UnB (Universidade de
Brasília), a falta de cultura cívica do brasileiro explica a eleição destes
candidatos, que considera um fenômeno de despolitização. “O eleitor brasileiro
não sabe discernir as qualidades necessárias para que um candidato seja um bom político.
O eleitor não tem critério”, diz.
Segundo o professor, a falta de interesse e participação dos
cidadãos na política e na vida pública explica o fenômeno, que não é recente.
“Nos anos 1950, São Paulo elegeu um rinoceronte como vereador, o Cacareco”,
afirma Nogueira. “Acredito que o maior desafio cívico do Brasil hoje é
justamente criar esta consciência de participação na vida política. O eleitor,
quando quer desmoraliza as eleições com este tipo de voto inusitado, consegue.
Só que isto não é bom para o país”, afirma Nogueira.
“Não podemos ter preconceito. Às vezes dá certo, como no caso do
Tiririca”, diz. “Mas geralmente dá errado e o resultado é isso [esta câmara]
que temos aí.”
O
lançamento dessas candidaturas para cargos legislativos é uma estratégia dos
partidos para conseguir eleger políticos profissionais através do coeficiente
eleitoral. As eleições para vereador, deputado federal e deputado estadual são
proporcionais. Isso significa que para eleger um candidato, o partido deve
atingir um número específico de votos, que varia de acordo com a cidade ou
estado.
Assim,
os candidatos que recebem mais votos que o necessário para se eleger transferem
para os outros candidatos do partido os votos excedentes. Logo, celebridades
conhecidas são potenciais puxadores de voto.
Foi o
que aconteceu, por exemplo, com o PR de São Paulo nas eleições de 2010.
Tiririca se elegeu deputado federal pela legenda com 1.353.367 votos.
Como o
coeficiente eleitoral no Estado era de 304.533 votos, ele transferiu 1.048.834
de votos para o partido e ajudou a eleger outros três candidatos da coligação.
Entre eles, o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR), que em 2005 renunciou
ao mandato em meio a acusações de envolvimento no escândalo do mensalão.
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